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Protocolo SBAR: facilite a comunicação e seja mais eficiente!

O método SBAR é um modelo de comunicação que nos últimos anos ganhou destaque na atuação de profissionais da área de saúde.

O método oferece diretrizes claras para promover uma manutenção da estrutura de trabalho e reduzir ao máximo a chance de erros e omissões durante a troca de turnos.

Só nos Estados Unidos, as falhas de comunicação durante a transição entre plantões são responsáveis por 30% de todas as acusações de erros médicos e más práticas dentro dos hospitais.

Essa percentagem, em cinco anos, pode significar até 1.700 mortes que podiam ser evitadas além de US$ 1,7 bilhões de custos com processos judiciais e pagamento de indenizações.

Os dados são do Conselho de Credenciamento para a Educação Médica de Pós-Graduação (ACGME, na sigla em inglês), órgão responsável por credenciar e avaliar programas de internato e residência nos Estados Unidos.

Ainda segundo o ACGME, chega a 70% o percentual de instituições de saúde estadunidenses que não conta com uma padronização durante a troca de plantões.

E no Brasil, a situação não é muito diferente.

Segundo o Anuário de Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), a cada hora seis pacientes morrem no país em decorrência de erros médicos.

Esse número também transparece nos processos judiciais.

Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) indicam que pelo menos metade dos óbitos acarretam em ações judiciais – a estimativa é de três processos registrados por hora no país.

Todos esses dados nos apontam para urgência dos hospitais do Brasil e do mundo adotarem processos mais claros e efetivos para garantir o bem-estar da população.

Essa necessidade fica mais evidente em momentos como o que vivemos no começo de 2020, quando o surgimento de um novo vírus pode acabar sobrecarregando e até mesmo colapsando sistemas de saúde até então bem-estabelecidos.

Continue lendo para saber mais sobre o método SBAR e entender como ele pode ajudar os profissionais da saúde e manterem uma rotina de trabalho mais organizada e segura.

O que é SBAR

O que é SBAR

Todo mundo sabe do potencial das falhas de comunicação em criar problemas e erros dentro de um fluxo de trabalho.

Na maioria dos ambientes profissionais, o bom andamento das atividades depende do bom relacionamento entre as partes, o que garante uma troca de informação direta e transparente.

Mas, quando falamos sobre erros durante o trabalho é preciso que tenhamos em mente que em alguns segmentos eles têm um peso ainda maior do que em outros.

Na aviação civil, por exemplo, um erro de cálculo do piloto pode custar a sua vida e de todos que ele transporta na aeronave.

É por isso que a área conta com capacitações e verificações periódicas para garantir que todos estejam cientes do que fazer em caso de emergência e, principalmente, quais ações precisam ser feitas para evitar que essas situações aconteçam.

Com os anos, estes procedimentos se tornaram praxe no mundo dos pilotos e comissários de bordo.

São diversos os treinamentos semestrais sobre emergência e trabalho em equipe, atividades de verificação de competências e manutenção de habilidades para garantir que o profissional está atualizado quanto às tecnologias e os protocolos empregados durante o voo.

Mas, enquanto na aviação as ações preventivas para a segurança fazem parte do cotidiano, na medicina elas não são tão comuns quanto se pensa – é o que aponta Sidney Dekker em seu livro Patient Safety: A Human Factors Approach.

No guia sobre segurança do paciente, Dekker alerta para a falta de padronização nos processos da área e a carência de procedimentos de manutenção de competências, manejo de fadiga, check-lists, entre outras ações que tem o potencial de aumentar qualidade do atendimento prestado.

Essa deficiência em comunicação da área é grave e, segundo artigo do Journal of Critical Care, responde por 32% das mortes em UTIs.

É justamente dentro desse contexto que o SBAR se estabeleceu como um modelo útil para garantir o fluxo de comunicação dentro do ambiente hospitalar.

Originalmente criado pelo exército, o método foi utilizado primeiro dentro de submarinos nucleares que por natureza passam grandes períodos de tempo submersos e dependem da boa comunicação entre os seus tripulantes para o sucesso da missão.

Em seguida, a indústria da aviação usou de suas técnicas para garantir a qualidade em todas as suas entregas e minimizar os acidentes tanto quanto possível.

Enfim, o modelo SBAR encontrou morada no atendimento de saúde.

O primeiro uso que se tem registrou foi feito pelo time de socorristas do Kaiser Permanente, um complexo hospitalar do Colorado, Estados Unidos.

O experimento está registrado no manual para enfermeiros Patient Safety and Quality, publicado em 2008.

De lá para cá, o sucesso do SBAR fez como que ele se tornasse uma ferramenta reconhecida dentre profissionais de saúde e adotada pelo mundo todo.

O seu nome é na verdade um acrônimo sobre as fases da comunicação que devem ser respeitadas na hora trocar de plantão com o próximo profissional.

Esses elementos funcionam como um check-list que garante que a troca de informações será completa para garantir a segurança do paciente.

Abaixo, você conhece com mais detalhes os quatro elementos presentes em uma estratégia de SBAR.

 

Situação

Como dissemos, o modelo SBAR é na verdade uma sigla que corresponde aos cinco elementos que devem estar presentes na comunicação para garantir que não haja ruídos ou más interpretações.

Na primeira etapa – chamada em inglês de Situation –, o profissional de saúde precisa explicar o que está acontecendo e porque isso justifica a atenção de médicos, enfermeiros e técnicos.

Esse é o momento de identificar o problema apresentado uma breve descrição – no máximo 10 segundos – que explique porque o paciente está sentindo o que sente.

Além da agilidade, nesse momento é importante que quem comunica se identifique por nome, título e função dentro do ambiente hospitalar.

Também é importante descrever o paciente com nome, idade e sexo – principalmente os dois últimos, já que são fatores que têm impacto direto sobre a gravidade dos sintomas.

 

Breve Histórico

Em seguida, o modelo SBAR determina que a comunicação deve falar também de maneira breve sobre o histórico do paciente que foi verificado durante a anamnese.

Essa segunda etapa corresponde ao Background na versão original da sigla em inglês.

O objetivo aqui é oferecer o diagnóstico ou razão pela qual o paciente foi admitido no leito hospitalar, caso o prognóstico ainda seja inconclusivo.

O momento do Breve Histórico também serve para determinar a razão e o contexto da visita do paciente.

Nesse estágio, o prontuário já deve estar pronto e recheado do máximo possível de informações relevantes para a continuidade do tratamento pelo próximo profissional.

Além da data e razão da admissão, é preciso informar sobre os sinais vitais da última checagem e anomalias que eventualmente tenham sido registradas desde que o paciente foi admitido.

Também é preciso informar sobre medicamentos que já foram administrados, possíveis alergias, resultados de exames e o status de urgência daquele atendimento.

 

Avaliação

O próximo passo do SBAR é conhecido no Brasil como Avaliação ou Análise.

Se até então o profissional estava transmitindo apenas fatos e dados do paciente, esse é o primeiro momento em que ele se coloca de maneira mais clara no processo de comunicação.

Na sigla em inglês, esse é o momento em que o Assessment é feito.

Esse palavrão significa simplesmente que o técnico, enfermeiro ou médico precisa reservar uma parte de sua comunicação para dar sua análise do cenário.

Aqui, o profissional de saúde vai apresentar o diagnóstico que ele acredita ser mais apropriado para o caso de acordo com as informações coletadas até o fim do seu turno.

Esse também é o momento de expressar possíveis preocupações sobre como ele acredita que o quadro vai se desenvolver dali em diante.

 

Recomendação

Para completar o modelo SBAR, a última fase determina a necessidade de fazer uma recomendação de ação a ser executada em seguida para garantir a continuidade do tratamento.

Em inglês, essa etapa é conhecida como Recommendation.

Muitas vezes, durante a transição de plantonistas, o profissional que está chegando não tem tempo de criar um plano de ação para todos os pacientes de maneira rápida o suficiente.

Por isso, é essencial que quem estiver saindo do turno indique para o colega o que esperar e quais ações devem ser feitas nas próximas horas.

A recomendação é que essa etapa final do modelo SBAR venha de maneira imperativa, e não como uma sugestão, usando uma comunicação assertiva garantir a continuidade do protocolo.

O plantonista que está de saída precisa, ainda, estar pronto para responder eventuais dúvidas que surgirem.

Isso porque depois que todas as informações e recomendações forem passadas, é interessante deixar um espaço para perguntas e discussão com quem chega.

Ferramentas derivadas do SBAR

Ferramentas derivadas do SBAR

Ao longo dos anos, muitas foram as adaptações feitas a partir do modelo de comunicação proposto pelo SBAR.

É comum que as ferramentas de gestão ganhem novas formas depois de iniciado o contato com os profissionais.

Isso acontece principalmente porque é no trato cotidiano que as dificuldades ficam mais claras e as necessidades mais perceptíveis para o profissional.

Essas ferramentas derivadas vieram, então, para cumprir novas demandas observadas durante a aplicação do método em sua forma tradicional.

Dessa maneira, o profissional de saúde consegue garantir um cuidado dedicado ao seu paciente, de maneira personalizada de acordo com o contexto.

Abaixo, você conhece as principais ferramentas derivadas do SBAR.

 

ISBAR

O modelo ISBAR segue uma matriz praticamente idêntica ao original, com a pequena diferença de que acrescenta uma etapa antes no momento da “Situação”.

O “I” da sigla significa Identify ou Identification no original em inglês, o que nos dá uma pista sobre qual é sua intenção.

Aqui, o acréscimo de uma fase de identificação visa garantir que haverá uma definição clara de quem são os profissionais e os pacientes envolvidos na troca dos plantões.

A variação defende que dentro da identificação do paciente será preciso incluir seu nome, data de nascimento e também seu número de identificação interna dentro do hospital.

Para os profissionais, basta se apresentar com o nome e função/título.

 

SBAR-R

O protocolo proposto dentro da ferramenta derivada SBAR-R parte da mesma matriz do modelo tradicional, mas adiciona uma etapa ao fim do processo.

Nesse caso, o “R” final está aqui para representar as palavras Review ou Response – que em tradução livrem tem significado próximo de “revisão” e “resposta”, respectivamente.

Essa etapa garante que o interlocutor entendeu tudo que o plantonista de saída tinha para falar, abrindo espaço para que ele possa fazer perguntas e revisar tudo que foi dito até ali.

É extremamente importante que quem está saindo do turno certifique-se de que o colega que chega tem um panorama completo da situação clínica dos pacientes.

Um bom jeito de manter a comunicação engajada é apresentar, ao final, a sua expectativa de resposta em forma de questionamentos como “você vai administrar a medicação daqui quantas horas?” ou “qual o próximo procedimento que você vai fazer?”.

 

ISBARR

A derivação ISBARR parte do modelo tradicional como todas as outras, mas, dessa vez apresenta a adição de duas etapas não verificadas na versão original: Identification/Identify (I) no início Response/Review (R) ao final.

Assim, entendemos que essa ferramenta derivada funciona como uma combinação dos modelos ISBAR e SBAR-R, incluindo as etapas de identificação e revisão dentro processo.

O modelo tem tido bastante sucesso para garantir uma comunicação direta entre profissionais e tranquiliza-los de que fizeram sua parte ao fim do plantão.

Segundo estudo publicado em 2008 pelo Journal of Nursing Education, a aplicação do protocolo tem o potencial de diminuir significativamente os níveis de ansiedade e aumentar a confiança de enfermeiros.

 

iSoBAR

De todas as derivações apresentadas aqui, essa talvez seja a que mais se distingue do modelo original e também das outras versões apresentadas.

O modelo foi criado em 2007 a partir de um estudo realizado no Royal Perth Hospital, na Austrália.

Por meio da tentativa e erro, o grupo responsável por implementar o protocolo SBAR percebeu que o modelo deveria ser adaptado e expandido para melhor atender às necessidades do contexto local.

Na versão australiana, o modelo acrescenta o “I” com o mesmo sentido de garantir a identificação das partes envolvidas.

O uso do “o” aqui tem a função de reforçar a importância das observações (Observations, no original em inglês) para garantir a assertividade da próxima fase, da situação (S).

Por fim, o “R” do final da sigla foi ressignificado de Recommendation para Read Back, que tem um sentido parecido com a Review apresentada no SBAR-R.

Quais os principais benefícios do SBAR

Quais os principais benefícios do SBAR

As informações passadas durante a troca de plantão são essenciais, pois moldam o ponto de vista de quem está chegando a partir das informações fornecidas.

Por isso, os profissionais e instituições de saúde que aplicam o método proposto no SBAR em seu dia a dia podem observar diversos benefícios em seus resultados quase que imediatamente.

Podemos começar mencionando uma diminuição do tempo de transição entre turnos.

Como os profissionais contam com um modelo de comunicação, esse processo acaba sendo mais ágil e prático.

Essa maior rapidez, porém, não vem em detrimento de uma comunicação falha ou incompleta.

Muito pelo contrário: existem diversos estudos que indicam para o fato de que instituições que implementam o SBAR – ou uma de suas variações – em seu cotidiano conseguem garantir uma troca de informações mais eficiente e abrangente.

Todo esse trabalho de sistematizar a comunicação e os procedimentos de cuidado acaba por melhorar o registro dos prontuários, pois a mentalidade da equipe está organizada no sentido de transmitir o quadro dos pacientes de maneira íntegra.

 

Exemplos de SBAR

Vamos imaginar que estamos em um ambiente hospitalar onde o SBAR foi adotado como modelo de comunicação nas trocas de plantão.

A situação (S) que temos é que, às 11 horas da manhã, uma paciente chegou até o local em busca de um atendimento eletivo que alegou ter agendado há mais de um mês.

Como background (B) da situação, sabemos que ela de fato tinha uma consulta marcada, mas, por confusão do administrativo ou da própria paciente – no momento é difícil saber –, ela veio ao hospital um dia antes.

Por morar muito longe e já ser idosa, a mulher depende da carona de um neto que só está disponível naquele dia.

Por sorte, desistências naquele mesma manhã fizeram com que abrissem dois espaços na agenda do plantonista que está chegando.

Como avaliação (A), o profissional que está indo embora entende que será possível atender a paciente nesses horários.

A sua recomendação (R) é então que o novo plantonista faça o atendimento como um encaixe em um dos horários que ficaram vagos.

SBAR

Conclusão

Criado há quase duas décadas, o modelo de comunicação SBAR tem se provado extremamente útil para reduzir ruídos e aumentar a confiabilidade das informações fornecidas durante a troca de turnos.

A ferramenta foi originalmente criada para auxiliar a tripulação dos submarinos nucleares, mas logo ganhou destaque em outras áreas, passando pela aviação civil antes de chegar aos serviços de saúde.

No ambiente hospitalar, o SBAR fez morada e vem garantindo maior segurança para os pacientes e tranquilidade para os profissionais no desenvolvimento de suas funções.

Com eficácia comprovada por meio de inúmeros estudos e artigos científicos, o método chega aos anos 2020 como uma estimada ferramenta capaz de garantir a qualidade da comunicação em diversos segmentos.

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